terça-feira, 17 de setembro de 2013

Farol

 

 Vi um menino que corria a toda velocidade em sua bicicleta, com um sorriso largo no rosto, devido a felicidade que sentia ao estar em sua bicicleta nova, e ele ia a toda velocidade para chegar a tempo na aula de artes, a aula que mais gostava, aonde podia usar sua criatividade, imaginar e desenhar um mundo novo onde todas as crianças poderiam ter a sua própria bicicleta; ele ia passando pela rua pensando naquela aula de artes, pensando se teria tempo para passar na biblioteca mais tarde, ele precisava estar lá todos os dias se possível, nada o nutria mais do que ter um livro em mãos, livros que o estruturavam, que o faziam encontrar-se com coisas maravilhosas, aquele menino se sentia completo a cada história lida.
  No final de cada dia daquela criança sua mãe sempre o esperava, principalmente naquele tempo frio, para tomar sopa com a família, aquela sopa quentinha, a melhor do mundo na opinião dele. E na hora de ir dormir então? Ah! Não tinha nada melhor para ele do que ouvir sua mãe contar-lhe histórias até que pegasse no sono e sonhava ser sempre o protagonista da história que havia sido contada; estar vestido com seu moletom favorito, estar coberto e se sentindo quente nesta época de frio, o que mais poderia querer uma criança? Sorri feliz, mas então abri os olhos e voltei a olhar para aquele menino vendendo bala no farol, vi que ele não tinha aquela vida que eu imaginei ter uma criança, que toda criança merece! Não havia uma bicicleta, ele não tinha um moletom naquele frio, quem me garante que ele tinha a oportunidade de ter um livro em mãos? Ele estava ali vendendo balas na tentativa de sobreviver, quem sabe há quanto tempo ele não comprava comida? Fiquei ali parada, deixando uma lagrima escorrer no rosto. Temi pelo futuro daquele menino. Ele parou ao lado da janela no meu carro: Me ajuda tia, dá um real?, e claro eu de prontidão peguei tudo o que eu tinha na carteira e  dei para ele, não achei errado, seria errado querer que uma criança tivesse o que comer? Ele  e ele já ia se virando para seguir seu caminho, que ainda seria árduo, gritei para que ele esperasse, tirei minha jaqueta e lhe estendi. —Pra que isso tia?. —É  bom não sentir frio, e sorri para ele, que agradeceu e saiu correndo, gritando obrigado. O farol abriu, levei alguns segundos a mais para seguir em frente, enfim continuei. Quando estava no cruzamento, vi o farol de um carro, senti o choque dos pedaços de vidro que me cortavam, só vi a luz a frente, senti a dor do acidente. Agora ... não lembro quem sou, não sei se sobreviverei, mas lembro que tive tempo de ajudar um menino que só quer um futuro, lembrei do sorriso, do brilho no olhar daquela criança; o menino do farol, sorri ao pensamento, ah! Eu queria saber seu nome... Senti meus olhos fecharem e só tive tempo de pensar que pelo menos hoje, ele terá um dia a menos para sentir fome e frio... sorri... Mas e amanhã? Será que alguém poderia parar cinco minutos para ajudar aquele menino? ... Respirei com dor e tudo ficou escuro.
 
 

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